Não quero ser chato (e já estou sendo), mas volto aqui a falar de nosso presidente. O motivo é a reportagem publicada na Folha de S.Paulo de hoje por Elvira Lobato, que considero a melhor jornalista brasileira do setor de tecnologia. Elvira levantou junto à Anatel quanto devem as operadoras de celular pela compra das licenças do sistema 3G, que está sendo implantado agora no País. Leia sentado: R$ 3,5 bilhões é o valor da dívida (a Claro, que comprou o lote mais caro, pagou à vista R$ 1,426 bilhão e, portanto, não deve nada).

As outras cinco operadoras – Vivo, Tim, Oi, Brasil Telecom e CTBC – pagaram apenas parte do que deviam e agora alegam que, devido à crise internacional (!!!), não têm como cumprir os prazos de pagamento, que vencem no próximo dia 10. Já comentei aqui a pretensão da Oi, que foi a primeira a fazer essa absurda alegação. Mas agora o movimento toma ares de disputa política. A Anatel, com toda razão, quer seguir as regras do leilão, que dá às operadoras a opção de financiar a dívida em até nove anos (com mais três de carência), pagando juros de 12% ao ano mais a correção pelo IST (Índice do Setor de Telecomunicações).

Pois nem isso as operadoras aceitam. Segundo a reportagem, elas querem simplesmente que o prazo para pagamento sem juros seja estendido por mais 18 meses. Executivos do setor acham que os juros cobrados são muito altos. Interessante, não? Esses juros foram fixados lá atrás, quando houve o leilão das redes 3G, e mesmo assim todos aceitaram participar… Caso o pedido das operadoras seja atendido, o Tesouro (ou seja, nós, contribuintes) arcará com uma renúncia fiscal de R$ 1 bilhão.

Além do paradoxo que seria prestar esse tipo de ajuda a apenas algumas empresas do setor (afinal, a Claro pagou sua parte à vista), a repórter levantou que até mesmo entre elas há divergências – algumas têm o dinheiro para pagar e não querem ficar com a imagem de más pagadoras. Além disso, diz o texto, segundo o Banco Central as operadoras que são ligadas a multinacionais enviaram este ano a suas matrizes um total de US$ 691 milhões em lucros, um aumento de 194% (isso mesmo: cento e noventa e quatro por cento) sobre o ano passado.

Mas por que eu disse que o problema está entrando na esfera política? Simples: esta semana, houve no Rio de Janeiro um jantar do presidente Lula com os presidentes da construtora Andrade Gutierrez e do grupo LaFonte, que são donos da Oi. Como se sabe, as duas empresas foram as maiores financiadoras da campanha de Lula à reeleição, e a Oi tem ainda participação numa sociedade com o filho do presidente. O que teria sido discutido nesse jantar? Seriam, por acaso, os R$ 12 bilhões que a Oi já obteve junto ao BNDES e ao Banco do Brasil para comprar a Brasil Telecom? Ou quem sabe uma ajudinha para pagar a dívida com a Anatel, que no caso da Oi é de R$ 867 milhões?

Uma coisa dá para ter certeza: quem pagou esse jantar fomos eu, você e todos os que trabalham honestamente e pagam seus impostos em dia.

1 thought on “Um jantar de R$ 12 bilhões

  1. Isto que acontece neste país é um acinte à inteligência da população. E ainda discutem este assunto na maior cara de pau, como se dinheiro público fosse de sua propriedade. É triste, só rindo para não chorar…

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