Minutos depois de receber uma mensagem propondo adesão a um abaixo-assinado contra o trabalho escravo, li surpreso hoje a notícia de que grandes empresas de tecnologia estão investigando a causa de uma série de suicídios acontecidos nos últimos dias na China. Coincidência? Bem, os dez suicidas divulgados até agora são todos funcionários da empresa Hon Hai, que fabrica componentes para clientes como Apple, HP, Dell e Nokia.

Os primeiros relatos indicam que todos vinham sendo pressionados por seus chefes, por ordem de Terry Gou, diretor-geral do grupo FoxConn, dono da Hon Hai. Em abril, o primeiro deles saltou da janela de seu dormitório, num dos prédios da fábrica localizada na cidade de Shenzen, onde se concentra a maior parte das empresas do setor de tecnologia locais. Embora com sede em Taiwan, a FoxCann possui várias fábricas na China, e na maioria delas o regime de trabalho é mantido em mistério, o que por si só já causa suspeitas. Até a semana passada, os clientes da Hon Hai evitavam comentar o assunto. Mas a repercussão entre os operários naturalmente só podia ser péssima. Ali trabalham nada menos do que 420 mil pessoas! O temor de novos suicídios fez Gou levar ontem um grupo de jornalistas chineses para um “tour” pelas fábricas, tentando mostrar que tudo está sob controle (ele aparece gritando, no centro da foto, divulgada pela agência France Presse).

Nos EUA, a Dell divulgou comunicado indicando que, se forem comprovadas más condições de trabalho, poderá suspender as encomendas da Hon Hai. HP e Apple foram mais cautelosas. É a Hon Hai que monta o iPad e os Macbooks. Vamos acompanhar os desdobramentos dessa tragédia.

2 thoughts on “Trabalho escravo high-tech

  1. Infelizmente esta é uma realidade que afeta praticamente todos. Sao inumeras as empresas “fab-less”, que nao tem fabricas proprias e dependem de terceiros. Imagine os fabricantes menores, que nao sao vigiados como os citados… Assisti um documentario da MSNBC sobre o Walmart e os problemas sao os mesmos. Trabalho quase escravo, em condicoes ultrajantes, jornadas de 14, 16 horas.

    Isso sem falar nos empregos perdidos no primeiro mundo, trocados por esta mao-de-obra barata.

    Abs

    Julio

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