Passando por uma loja paulistana neste fim de semana, fiquei curioso ao ver uma prateleira repleta de LPs. Isso mesmo: discos de vinil, daqueles que colecionávamos na juventude e que, para a minha geração beatlemaníaca, eram a mais perfeita tradução da música. Não pude deixar de reparar, com uma ponta de decepção, algumas diferenças. Primeiro, os discos agora vêm plastificados; não dá para abrir e ver se há algum encarte ou folheto dentro da capa. Segundo: como não são muitos títulos, ficam todos misturados. Um John Coltrane submerso por um Coldplay não é das visões mais edificantes para uma boa loja de discos, certo? Ou não seria, antigamente. Também não há toca-discos disponíveis para ouvirmos “aquela” faixa que, nos velhos tempos, nos faria assinar o cheque na hora. Pois é, nem se assinam mais cheques…

Ah! Sim, os preços. R$ 140 por um LP, ainda que seja um Coltrane, é demais!

Coincidência ou não, isso aconteceu no sábado, mesmo dia em que, nos EUA, comemorou-se o Record Store Day. Cerca de 900 lojas de disco participaram da campanha, a meu ver ingênua, destinada a chamar a atenção do público para a morte do segmento. Como sabemos, as grandes redes de lojas (Tower, Virgin, Discount) que vendiam de tudo em matéria de música não existem mais. Sobraram as tais 900, independentes, que sobrevivem como podem, segundo o site do jornal Seattle Times, que lhes prestou um belo tributo.

Nem estou falando de vinil; essas lojas vendem (bem, tentam vender) CDs mesmo, embora algumas reservem espaço para os velhos bolachões, que nos últimos anos vêm experimentando um revival. Mas a situação é crítica. Um dos entrevistados pelo jornal se queixa de que tablets e smartphones nem têm entrada para CD, assim como a próxima geração de notebooks! É preciso muita paixão para manter um negócio nessas condições.

Não por acaso, o jornal definiu o movimento como “canto de cisne” das lojas de disco. Bem, lá ainda existem 900 delas. E aqui? 100? 200? Seria canto de quê? Urubu, talvez?

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