“A cada 15 anos, o Brasil esquece o que aconteceu nos últimos 15 anos”. 

Esta foi uma das frases geniais de Ivan Lessa, jornalista brasileiro que faleceu na última sexta-feira em Londres, onde morava desde 1978. Pouco conhecido em seu próprio país (até porque não fazia questão disso), Ivan, filho do escritor Orígenes Lessa, fez parte da equipe que, em 1969, fundou O Pasquim, semanário de humor que não só desafiou a ditadura da época como revolucionou a imprensa brasileira. A seu lado naquele projeto estavam nomes como Paulo Francis, Ziraldo, Jaguar e Millôr Fernandes, entre outros.

Como Francis e Millôr, Ivan foi um dos maiores pensadores brasileiros. “Pensador”, no caso, é aquela pessoa que utiliza sua vasta bagagem cultural para discutir o país e, com isso, tentar melhorá-lo. Não se filia a uma determinada corrente política, justamente para poder criticar todas elas, quando merecem. Não se prostitui intelectualmente, vendendo suas ideias a quem pague melhor, o que infelizmente é regra, não exceção, no Brasil. Não faz questão de agradar, nem elogia apenas por amizade (outra praga nacional). E contribui, com sua inteligência privilegiada, para clarear corações e mentes menos dotados.

Ivan Lessa era tudo isso e muito mais, como se pode perceber em sua biografia publicada no site da BBC Brasil, onde colaborou até na véspera de sua morte, e nos depoimentos de inúmeros colegas de trabalho. Para minha geração, foi uma espécie de guru, às vezes tão erudito que precisávamos reler seus textos várias vezes para compreendê-lo. Sua decisão de viver no autoexílio causou polêmica na época, mas foi absorvida por nós, seus fãs, com o prazer da leitura de suas crônicas, artigos, críticas (especialmente sobre cinema e música, suas maiores paixões). Como fica claro nesta entrevista, não deixou o país por prazer; foi vencido pelo inconformismo contra a mediocridade, a falta de educação, a bajulação, a submissão e o excesso de esperteza.

Quem o exilou foi o famoso jeitinho brasileiro, maior prova de nossa incivilidade. Pior para o Brasil, cada vez mais pobre.

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