De vez em quando é bom saber que não estamos falando sozinhos. Acabo de ler mais um precioso artigo do prof. Silvio Meira, talvez a maior autoridade brasileira em tecnologia. Seu tema desta vez é a chamada política de substituição de importações, irmã gêmea da nefasta reserva de mercado para produtos de informática. Evidentemente, não posso (nem quero) me comparar ao digníssimo professor, mas me conforta saber que boa parte do que ele afirma já foi escrito aqui neste blog algumas vezes.

Como sabemos, a crise econômica volta a assustar o Brasil, depois de alguns anos de “marolinhas”. E um dos motivos alegados é a suposta desindustrialização, provocada pela falta de incentivo governamental às empresas nacionais. Queixam-se disso quase todos os setores que não conseguiram se adaptar à globalização e à evolução tecnológica desencadeada a partir dos anos 1990. São os “suspeitos de sempre”, empresários e políticos, às vezes assessorados por acadêmicos e lobistas, que insistem em viver às custas de benesses pagas com dinheiro público. Um filme a que já assistimos inúmeras vezes.

É inacreditável, como lembra o prof. Meira, que essas figuras estejam requentando argumentos de 40 anos atrás, quando espertamente se aliaram aos militares no poder para forjar excrescências como a reserva de mercado, aprovada em 1979, e a Zona Franca de Manaus (que é anterior). Foi nessa época que surgiram iniciativas visando à construção de fábricas de chips e à criação de um sistema operacional brasileiro, como respostas à “invasão” das multinacionais. O resultado foi um atraso de quase vinte anos, período em que o país permaneceu fechado às importações de eletrônicos. Diziam que isso fortaleceria as empresas nacionais e que estas produziriam aparelhos tão bons quanto os estrangeiros, e mais baratos do que estes…

O balanço de 2012 indica que não só as importações estão caindo, mas também as exportações, sinal claro de que o país está virando as costas ao mundo, do ponto de vista comercial e tecnológico. Mais: nossos investimentos em software e serviços são inferiores aos da Bolívia!!! Quanto à falta de mão de obra qualificada, acho que não preciso dizer mais nada. E a posição brasileira nos rankings internacionais de educação completa o quadro desastroso.

O prof. Meira lembra que ouve os mesmos argumentos nacionalistas, e em defesa de uma suposta “soberania”, desde 1977; e está preparado para ouvi-los até 2022, nas comemorações do bicentenário da independência, data propícia à exacerbação desse estúpido (porque falso) patriotismo. O artigo que publicou hoje está pronto e pode ser guardado para ser relido daqui a dez anos, sem mudar sequer as vírgulas. Lamento ter que concordar com ele. Mas estamos em boa companhia: “O nacionalismo é uma doença infantil; é o sarampo da humanidade”, já dizia um tal de Albert Einstein.

1 thought on “Reserva de mercado para a estupidez

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