Uma reunião extremamente discreta foi convocada, há cerca de duas semanas, pelo chefe da Divisão de Crescimento do Ministério da Economia do Conhecimento do governo da Coreia do Sul. Jaehong Kim chamou para conversar dois dos homens mais poderosos do país, os presidentes (CEOs) da Samsung e da LG. Só o fato de colocá-los frente a frente para conversar, numa mesma mesa, já pode ser considerado uma façanha. O objetivo do encontro era buscar uma reconciliação entre os dois grupos, que até hoje vêm discordando em quase tudo.
Bem, ainda não se sabem detalhes da conversa, apenas que os dois executivos concordaram em linhas gerais e combinaram de repassar a seus diretores para que cuidem dos detalhes. Mas o site coreano ET News revelou que o principal assunto foram as ações judiciais que LG e Samsung mantêm uma contra a outra e que, ao que tudo indica, levarão exatamente a lugar nenhum. O governo coreano está preocupado que, enquanto perdem tempo (e milhões de dólares) por causa da rivalidade, os dois grupos abram espaço para o “inimigo maior”: a indústria chinesa.
É bom recapitular como se chegou a esse ponto. Primeiro, foi a Samsung que entrou na Justiça local pedindo que a rival fosse proibida de usar a identificação OLED em seus TVs que estão para ser lançados. A alegação é que os painéis da LG são diferentes, e são mesmo: utilizam um subpixel branco para completar a paleta de cores, enquanto todos os demais fabricantes trabalham com os painéis convencionais RGB (vermelho, verde e azul). Não por acaso, os painéis da LG são chamados nos bastidores da indústria de “OLED branco”. A Samsung alega que o uso “indevido” da marca OLED pode confundir os consumidores e prejudicá-la. A Justiça ainda não deu sua sentença, mas agora a Samsung retirou a ação, talvez uma primeira consequência da tal conversa com mr. Jaehong (na Coreia, o sobrenome das pessoas vem em primeiro lugar).
Já a LG continua na Justiça com uma ação em que pede a proibição do tablet Galaxy Tab 10.1, alegando que a concorrente roubou patentes suas. Há ainda outras questões judiciais menores envolvendo as duas empresas, mas até o momento a LG não se manifestou.
Já estive na Coreia uma vez, em 1997, e vi de perto como é essa rivalidade entre os dois maiores conglomerados de tecnologia do país. Mas, na época, nem uma nem outra ocupavam a posição de liderança mundial que têm hoje. Imagino que o crescimento deva ter exacerbado ainda mais as hostilidades. Não tenho como avaliar se a tática do governo irá dar certo. Mas, se isso acontecer, com certeza mr. Jaehong terá alcançado um milagre. Quem sabe vire até presidente da República.
PS.: viram como são as coisas num país realmente preocupado com o desenvolvimento tecnológico? Na Coreia, eles têm uma “Divisão de Crescimento”, dentro do “Ministério da Economia do Conhecimento”. Parece coisa de ficção científica, mas para eles é a mais pura (e eficiente) realidade.