Ninguém na indústria eletrônica dominou a ciência do marketing (talvez ainda domine) como a Apple. Steve Jobs, mais que um empreendedor ou cientista nerd, era uma cabeça de marketing. Entendia muito de design (para isso havia estudado arduamente) e conseguiu juntar esses dois conhecimentos de forma primorosa. Foi dele a ideia de transformar cada lançamento de produto num grande evento, com cobertura da mídia internacional, que assim concedia à empresa largos espaços (se tivesse de pagar por estes, a Apple quebraria…)

Bem, lembrei hoje de Steve Jobs – a história acima está contada com mais detalhes em meu livro “Os Visionários – Homens que Mudaram o Mundo Através da Tecnologia” – ao ler as repercussões do evento promovido ontem à noite pela Sony, em Nova York, para o lançamento do PlayStation 4. Foi um verdadeiro anticlimax, diz a maioria dos especialistas. Durante mais de um mês, a empresa estimulou na mídia a divulgação de que haveria um grande lançamento, e o PS4 é, talvez, o produto mais aguardado deste ano. Tudo preparado, grandes equipes a postos para a cobertura, e eis que não havia produto nenhum a ser mostrado. Nada, além de um novo controle de jogos que “deve” acompanhar o console, quando este chegar às lojas. E quando isso acontecerá? Ninguém sabe. Nem a Sony (“até o final do ano”).

O que se depreende dessa insana (no mau sentido) iniciativa é que a Sony quis se antecipar a um possível evento em que a Microsoft apresentaria seu Xbox 720, nome por enquanto fictício. A ideia seria anunciar algo bombástico antes, para não deixar o concorrente brilhar sozinho na mídia. Em entrevista ao site AllThingsD, o presidente da divisão de games da Sony nos EUA, Jack Tretton, foi questionado a respeito. Saiu-se com esta resposta: “Quando coloca o disco no console, você não fica olhando para ele, mas sim para a tela. Queríamos mostrar a tela às pessoas. Haverá muitas oportunidades para ver o aparelho. Este ainda está em desenvolvimento, em termos de especificações e design.”

Se é isso, alguém precisa urgentemente avisar ao departamento de marketing da Sony que, quando as coisas estão ruins, sempre podem piorar. Anunciar um grande lançamento e não mostrá-lo é, mal comparando, como convidar alguém para jantar na sua casa e não preparar a comida. Mesmo que seja um ótimo produto, o estrago causado à imagem da empresa, especialmente junto aos jornalistas especializados, blogueiros e formadores de opinião, será difícil de reparar. Ainda mais num segmento de mercado em que quase todo mundo escolhe o que comprar com base nas opiniões que lê e ouve.

Vejamos agora como reage a Microsoft.

1 thought on “Quem manda é o marketing

  1. Discordo de você e me parece que boa parte da mídia internacional (especializada) também. A Sony criou o que queria, um evento que chamou a atenção para o próximo Playstation. De fato, fizeram o oposto do que a maioria acreditava que aconteceria, mostraram jogos, inclusive com demonstrações ao vivo, falaram de parte das configurações, mas não mostraram o produto final. O que a maioria esperava era mais uma apresentação vazia (comum em eventos de muitas empresas) em que seria mostrado console, sem falar em especificações e mostrando no máximo vídeos pré-renderizados dos jogos.

    Talvez tenham decepcionado a mídia geral, mas com certeza esquentaram os corações dos “gamers”, seus consumidores mais importantes. Agora estão todos ansiosos pela revelação do aparelho, provavelmente na E3 no meio do ano. Pelos próximos 30-60 dias a mídia de games falará apenas em Playstation 4 (ou até a Microsoft mostrar o que tem na manga).

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