O conceito de pregões eletrônicos – que já existe há uns vinte anos na Europa, EUA e alguns países da Ásia – é o mais próximo a que já se chegou da perfeição em matéria de gastos públicos: os dados são exibidos na internet para que todos acompanhem, confiram, monitorem, e assim previnem-se desvios e acertos “por fora” entre as partes envolvidas.

Mas, claro, não estamos falando do Brasil. Por mais que se divulguem medidas para uma gestão pública “inteligente”, a toda hora surgem sinais indicando exatamente o contrário. Vejam esta notícia do site Convergência Digital: o TCU (Tribunal de Contas da União) concluiu uma auditoria no Comprasnet, sistema eletrônico de compras públicas instalado pelo governo federal em 2010. Conclusão: irregularidades que somam R$ 4,6 bilhões!!!

A criatividade brasileira introduziu a figura do “coelho”, nome que se dá a uma empresa que entra no pregão apenas para apresentar uma proposta de valor muito baixo, de modo a excluir as concorrentes. A coelhice é combinada entre duas ou três, e uma delas sempre acaba vencendo a disputa. Parece que o TCU descobriu a farsa, tanto que está interpelando várias orelhudas.

Dias atrás, o mesmo site informou que o TCU bloqueou um outro pregão, este dos Correios, no valor de R$ 783 milhões, que visava à contratação de “serviços de rede IP”. Envolvidas: as operadoras Claro e BT Brasil (British Telecom). Enquanto a primeira apresentou proposta no valor de R$ 742,2 milhões, a segunda veio com R$ 136,1 milhões! Mesmo sem conhecer os detalhes, não é difícil imaginar que há algo errado com uma diferença dessas.

Pelo que diz o relator do processo no TCU, a BT seguiu o “manual de instruções” para quem participa de licitações públicas no Brasil: após vencer a disputa, “renegociou” os termos de sua proposta, que aumentou para R$ 742,5 milhões (os detalhes estão neste link).

Não há tecnologia que resista a esse tipo de criatividade.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *