O governo Temer começou com polêmicas diversas, para todos os gostos, e algumas delas envolvem o setor de telecom. A unificação dos ministérios de Comunicações e de Ciência e Tecnologia parece racional, do ponto de vista administrativo, mas esbarra – como também aconteceu no Ministério da Cultura – na falta de visão do futuro e no corporativismo. Essas áreas nunca foram estratégicas no Brasil, embora as Comunicações tenham passado por revoluções nos governos militares e, mais tarde, no governo FHC. Já Cultura, Ciência e Tecnologia sempre foram tratados como temas acessórios.

Embora seja por definição provisório, com duração de no máximo 18 meses, o governo Temer tenta promover mudanças que exigem muito mais do que articulações políticas. E um símbolo dessa dificuldade é a disputa em torno do controle da EBC (Empresa Brasil de Comunicação), transformada em verdadeira arena nas últimas semanas. Em pleno processo de impeachment, a presidente Dilma nomeou um novo presidente para o órgão, cujas credenciais técnicas são no mínimo discutíveis. Ao assumir, Temer o demitiu – desconsiderando o fato de que o mandato na estatal é de quatro anos; um ministro do STF suspendeu a demissão, que agora precisa ser confirmada (ou anulada) pelos demais juízes.

Como se vê, um imbroglio típico da política brasileira. Idealizada para ser uma espécie de redentora da TV pública no Brasil, a EBC foi tomada de assalto pelo governo do PT e se transformou em campeã de audiências judiciais. Os novos governantes promovem uma caça às bruxas que paralisa as poucas atividades da estatal. Caberia uma discussão elevada sobre qual deve ser o papel do Estado no financiamento e fiscalização das atividades de comunicação e cultura. Mas o clima não está para tanto. Os participantes não parecem nem um pouco preocupados com algo tão relevante para o país.

O artigo do colega Samuel Possebon, do site Converge.com, que republicamos aqui, é até agora um dos raros textos sensatos sobre a questão da EBC e os riscos envolvidos na disputa política. Não concordo com todos os argumentos, mas vale a pena ler e refletir a respeito.

Como em todas as demais polêmicas relacionadas ao governo Temer, é muito importante se informar antes de sair atirando via redes sociais, hoje a mídia mais usada. Nem tudo é o que parece, ou muito pelo contrário.

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