No último dia 29, completaram-se dez anos da criação do SBTVD (Sistema Brasileiro de Televisão Digital), que tanta polêmica causou na época. Para não se indispor com as emissoras, que lhe davam apoio (já estava “no ar” o escândalo do Mensalão), o então presidente Lula aceitou a proposta de adaptar o padrão japonês ISDB-T, e não os padrões europeus (DVB-T) e americano (ATSC). Até hoje há quem questione a decisão, mas o fato é que foi uma decisão mais política do que técnica, e todo mundo teve que se adequar (digitando no campo de busca ao lado a sigla “SBTVD”, há um vasto histórico a respeito).

Num relato detalhado sobre o processo de implantação do SBTVD, o Ministério das Comunicações divulgou que o ISDB-T foi adotado por 16 países além de Brasil e Japão. E cita um estudo da UIT (União Internacional de Telecomunicações) informando que 60 países já completaram o ciclo de seus padrões de TV digital, enquanto 59 vivem a fase de transição, como é o caso do Brasil; outros 19 definiram o padrão, mas ainda não o implantaram, enquanto 70 nem fizeram a escolha.

É interessante analisar os gráficos da UIT (vejam aqui). Na América do Sul, a Colômbia é o único país que já concluiu a implantação de seu padrão de TV digital. Na mesma lista, estão EUA, Canadá, toda a Europa Ocidental, Austrália, Japão e até alguns sem tanto poder econômico, como Marrocos e Mongolia. Ao lado do Brasil na “transição”, encontramos Rússia, Índia, Irã, México, Indonésia e a maioria dos africanos.

A data 29 de junho se refere à assinatura do decreto 5820/06, que determinou as características do padrão digital brasileiro:

*Sinal de alta definição (1.920 x 1.080 pixels em processamento entrelaçado)

*Possibilidade de transmissão via dispositivos móveis (em baixa definição)

*Capacidade de multiprogramação (faixa de 6MHz, que comporta até quatro sinais simultâneos pelo mesmo canal)

*Interatividade (utilizando o middleware Ginga)

Como se sabe, apenas os dois primeiros itens foram cumpridos. Ainda assim, o sinal de alta definição não está disponível em todo o país, porque exige torres de retransmissão que as emissoras não querem financiar (e o governo não tem orçamento para isso).

Na verdade, a TV digital começou mesmo no país no dia 2 de dezembro de 2007, quando usuários paulistanos que possuíam um TV compatível puderam assistir à transmissão do Fantástico em alta definição, além de um discurso do presidente. Lembro bem que era um domingo à noite e a revista HOME THEATER reuniu num hotel da cidade um grupo de profissionais do mercado para acompanhar aquele momento histórico (os detalhes podem ser conferidos aqui).

O calendário original previa que exatamente no último dia 30 de junho estariam desligados todos os transmissores analógicos, com todas as cidades passando a receber apenas sinal digital. Agora, a data-limite é 2023 (aqui, o calendário oficial). E nem o site oficial do DTV está sendo atualizado…

E por que atrasou? Quando se pergunta nos bastidores do mercado, há uma variedade de respostas, mas todas convergem para um mesmo diagnóstico: o cronograma não tinha como ser cumprido. Foi mais ou menos o que se passou com as obras para a Copa do Mundo e para os Jogos Olímpicos: todos sabiam que os prazos eram inviáveis, mas posaram para fotos junto dos políticos e assinaram embaixo do decreto governamental.

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