Um dos cases mais interessantes da indústria eletrônica nos últimos anos é o da Kaleidescape, empresa do Vale do Silício que revolucionou o hábito de ver filmes no final da década passada. Como numa saga cinematográfica, seus criadores foram ao céu quando a inventaram, caíram no inferno ao enfrentarem na Justiça os estúdios de Hollywood e, contrariando todos os prognósticos, renasceram com a mesma força de antes.

Na semana passada, o CEO e co-fundador do grupo, Cheena Srinivasan, anunciou uma nova geração de servidores de mídia, compatíveis com conteúdos em 4K. O “milagre” se deu, diz ele, graças à fidelidade de milhares de usuários que anos atrás adotaram a plataforma Kaleidescape e não deixaram que a empresa fechasse suas portas. “Fomos abençoados”, disse ele ao site CE Pro, que reconstituiu a saga, digna mesmo de um case.

Comentamos um pouco sobre a história da empresa há cerca de quatro anos. Foram eles que aperfeiçoaram o conceito de media center: em vez de centenas de filmes gravados em disco, por que não ter tudo armazenado num aparelho só e acessar todos eles pelo controle remoto? A Kaleidescape desenvolveu os gravadores e players para isso, além de um sistema operacional, com menus, capas dos títulos e uma navegação que antecipou em alguns anos a revolução do Netflix. O próprio usuário podia copiar seus discos no sistema.

Foi aí que a ideia travou. Os estúdios, representados pela DVD Copy Control Association, foram à Justiça para impedir as cópias. Depois de muitas negociações, chegou-se a um acordo: as cópias não seriam mais permitidas, mas a Kaleidescape foi autorizada a implantar serviços de streaming inclusive para filmes recentes, algo que nem o Netflix conseguiu. Foi uma vitória para os três sócios fundadores, que no entanto deram o passo seguinte muito maior que suas pernas: anunciaram streaming com a qualidade de Blu-ray sem ter finalizado o software para tanto. Muitos clientes se decepcionaram, as vendas de players caíram e o dinheiro acabou.

Em agosto do ano passado, a Kaleidescape chegou anunciar que estava fechando. Mas – aí o milagre – Srinivasan e seus parceiros conseguiram financiamento de um fundo, mantiveram parte dos engenheiros que trabalhavam no projeto e, enfim, renasceram quase das cinzas. Numa incrível demonstração de transparência, relataram toda a história e agradeceram aos clientes, endinheirados capazes de pagar até US$ 3.200 por um media server e verem em seus TVs telas parecidas com a da foto acima. São cerca de 11 mil filmes e 2 mil episódios de séries, ao alcance de um clique.

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