A notícia de que o governo federal decidiu reduzir drasticamente (87%) o orçamento do Ministério de Ciência e Tecnologia não deveria surpreender quem vem acompanhando a condução da economia no país. De R$ 690 milhões originalmente previstos para a pasta em 2022, restaram apenas R$ 89 milhões, insuficientes para sustentar as bolsas de pesquisadores em diversos ramos e os projetos do CNPq já aprovados.

Na verdade, a decisão foi da Comissão Mista de Orçamento, do Congresso, atendendo pedido do Ministério da Economia. Pode ser revertida, diante das reações iradas de entidades do setor e até do ministro Marcos Pontes, que disse ter sido pego de surpresa, pois o projeto original foi modificado de última hora, quase na surdina e sem qualquer discussão. “Está em questão a sobrevivência da ciência e da inovação no País”, diz documento enviado pelas entidades ao presidente do Congresso.

E por que nada disso é surpreendente? Para começar, nem Ciência nem Tecnologia vêm sendo prioridades dos governos brasileiros há décadas (se é que algum dia já foram). Desde 2019, porém, a situação só tem piorado porque parece haver uma disposição concreta de desativar e desprestigiar tudo que se relaciona com a produção de conhecimento.

O tratamento dado a órgãos como Impe (pesquisas climáticas), Ibama (meio ambiente), CNPq (projetos científicos), Capes (bolsas para pesquisadores e cientistas) e outros diz tudo sobre como o atual governo encara a educação e a ciência. E nem é preciso falar da (falta de) política para combate à COVID.

A questão se agrava conforme se aproximam as eleições e o governo quer destinar mais verbas para setores “bons de voto”: pontes, estradas e obras físicas, que a população pode ver, ainda que sejam apenas iniciadas (ou nem isso). Pesquisa, como se sabe, não é uma atividade propriamente popular, embora tenha de fato, como diz o citado documento, tudo a ver com o futuro do país.

Segundo cientistas da USP e da UFRJ ouvidos pela Folha de São Paulo, os cortes anunciados incluem um inacreditável teto de R$ 9.167 por ano nos créditos concedidos a cada pesquisador interessado em desenvolver algum trabalho. Feitas as contas, temos cerca de R$ 750 por mês, no máximo… não é mera coincidência, portanto, que o Brasil esteja despencando no ranking dos países que conseguem segurar seus bons cérebros (vejam isto).

Durante os governos do PT, criticamos aqui várias vezes o descaso com eram tratados os segmentos ligados a ciência, tecnologia e mesmo educação, vítimas de demagogia, corrupção ou pura incompetência. A diferença, hoje, é que parece haver um plano premeditado de desmonte, do qual esse vergonhoso corte de verbas é apenas mais um capítulo. Um plano maquiavélico que nem a ditadura (1964-1985) ousou colocar em prática.

5 thoughts on “Ciência e Tecnologia, no fundo do poço

  1. Concordo com a critica do corte de verba, mas sr Orlando sou assinante desta revista desde o número 1 e nunca vi tanta crítica ao governo como agora. Dizer da falta de política de combate do covid quando o supremo tirou todo o poder do governo federal e entregou aos governadores que fizeram a roubalheira toda é no mínimo tendenciosa. O Brasil está no fundo do poço por causa dos governos passados.

  2. Olá Paulo, como sempre respeito a opinião de leitores educados que discordam. Abs.

  3. Concordo quanto a questão da política em respeitar a colocação do outro . Eu sou categórico em dizer que a maior podridão do país está na política e no Judiciário !! Ambos estão sempre de mãos dadas e seus altos salários !!
    O futuro quanto a evolução da tecnologia ,estou me referindo a qualidade da imagem em que recebem os cidadãos Brasileiros em seus televisores , quero deixar claro que até hoje em parte do Brasil estamos ainda no sinal analógica . Estamos no século 21 e o Brasil ainda com esta péssima imagem e em outros países já estão chegando não em 4k e sim em imagens 8 k . SUPER ATRASO NA EVOLUÇÃO TECNOLÓGICO O BRASIL !!

  4. Não existe um Ministério desse atual governo com gestão no azul. O Brasil e até o Mundo paga caríssimo por nossas escolhas em 2018.

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