Interessante reportagem do jornal O Globo dias atrás revelava como funciona o comércio em torno das atuais celebridades – ou, como é mais comum dizer hoje em dia, “influenciadores”. Se o leitor perguntar por que tratamos desse assunto aqui, num blog de tecnologia, a resposta é que algoritmos, base de quase tudo que se faz no mundo online, estão sendo manipulados para dar fama (e, claro, dinheiro) a figuras que pelas vias, digamos, naturais não teriam a menor chance de ganhar notoriedade.

Deixo o link no final do post, mas basicamente estamos falando de empresas que atuam num “ecossistema”, como bem define a reportagem, criado para inflar números de cliques, likes, interações e o que mais o distinto candidato a celebridade quiser. É o que em inglês se conhece tecnicamente como click farm (“fazenda de cliques”).

Pode ser um artista em início de carreira, uma empresa querendo atrair clientes para seu site ou até um político em campanha. Não importa: pagando, tudo se resolve. Quem viu os documentários O Dilema das Redes, no Netflix (aqui, o trailer), ou Privacidade Hackeada, que comentamos aqui, já deve imaginar como funciona.

Empresas identificadas como Dizu, Ganhar no Instagram (sim, isto é um nome…) e Kzom oferecem esse serviço especializado. Se você, caro leitor, não está satisfeito com a quantidade de pessoas que visitam seu site ou curtem suas mensagens, seus problemas acabaram. Contrate uma dessas e elas farão a mágica.

Como? Subcontratando pessoas desempregadas que tenham habilidade para fuçar na internet, a preços que nem chegam a ser de banana. Como há tanta gente sem emprego por aí, encontrar essa mão-de-obra não é difícil; especialmente jovens que não largam do celular. Sua tarefa será ficar horas e horas navegando pelo YouTube, Facebook, Instagram, Tik Tok etc. para curtir e comentar vídeos e mensagens dos clientes.

Segundo apurou a repórter Talita Duvanel, além de ser um falseamento da realidade essa prática implica em precarização do trabalho. Vejam este exemplo. Um pacote para ganhar mil seguidores em 24 horas custa 35 reais. E o coitado que irá ficar clicando e despejando emojis receberá a fortuna de R$ 0,01, no máximo, por curtida. Mil likes, 10 real…

Para atingir as metas solicitadas, ele ou ela acaba criando várias contas falsas onde os cliques e curtidas são gerados de forma automática. Esse é o mundo dos bots, que infestam as redes com mensagens falsas.

A toda hora saem na mídia notícias de que este(a) ou aquele(a) “influencer” tem XX mil seguidores; ou que tal assunto teve XX milhões de cliques. Como o trabalho de análise de mídia em grande parte das agências e departamentos de marketing (não todas, evidentemente, e felizmente) foi robotizado, esses números superfaturados podem acabar decidindo muita coisa.

É com isso que contam os donos das tais fazendas.

Aqui, o link para a reportagem.

1 thought on “Mafia dos cliques age à solta nas redes

  1. Bem interessante, Orlando. Não conhecia sobre isto. Obrigado por publicar.

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