Talvez não diga muita coisa para as novas gerações, mas para a minha com certeza é uma notícia triste: os célebres estúdios de Abbey Road, em Londres, estão à venda. Numa demonstração do estágio atual do mercado fonográfico, a gravadora EMI, proprietária do local, abriu negociações com interessados em adquirir o prédio (um sobrado que de fora nada tem de especial) e os equipamentos ali usados, que estão entre os mais refinados do mundo. Segundo o jornal Financial Times, que deu o furo, a gravadora comprou o sobrado em 1929, por 100 mil libras; agora, pede algo em torno de 120 milhões! O dinheiro será usado para abater parte de uma dívida com o Citibank, que já beira os 3,3 bilhões.

Nestas oito décadas, passaram pelo prédio número 3 de Abbey Road, região noroeste de Londres, todos – simplesmente TODOS – os músicos e intérpretes importantes, do jazz, da música clássica e do pop/rock. De Sinatra a Zubin Mehta, do Pink Floyd a Ella Fitzgerald, e mais Led Zeppelin, The Who, Miles Davis… Mas, claro, Abbey Road não seria o que é (uma marca admirada por todo mundo que entende de música) se não tivesse sido palco de 90% das gravações de um certo quarteto, nos anos 60. E se não tivesse sido capa (a rua, não o estúdio) do último disco desse mesmo quarteto, em 1969 (foto).

Tive o privilégio de entrar em Abbey Road em 2008 e chegar perto do piano com que – me disseram lá – Paul McCartney gravou “Let It Be”. Para saber mais detalhes, cliquem aqui. A notícia não esclarece o que será feito do fantástico acervo de gravações ali guardadas, algumas tão antigas quanto o próprio estúdio. Um verdadeiro tesouro, que pode simplesmente desaparecer. Me conforta um pouco o fato de saber que, pelas leis atuais de Londres, é proibido construir edifícios altos no bairro St. John´s Wood, onde fica a rua. Mas, nesse mundo virado de cabeça pra baixo em que vivemos, nada impede que derrubem a cada e construam ali, quem sabe, um estacionamento ou uma lanchonete fast-food. Só me resta rezar, ao som de “Because”.

4 thoughts on “Quem quer comprar um tesouro?

  1. Excelente texto, meus parabéns. Mas a notícia é realmente triste. Pobres as novas gerações, que alheias à cultura, boa música e reféns da ditadura dos MP3 e iPods, pouco farão para impedir que toda essa riqueza se perca no tempo.
    Triste…realmente triste.

  2. Notícia triste, meu amigo. Ainda mais para quem já teve o privilegio de estar lá, in loco.

    Se eu fosse um Richard Branson, um Steve Jobs ou Bill Gates, tiraria este “trocado” do bolso, compraria e doaria para a cidade de Londres transforma-lo em museu. Se existe justiça neste mundo, isso vai acontecer. Trata-se, afinal, de solo sagrado para quem gosta de boa música.

    Abs.

    Julio Cohen

  3. Há rumores que Andrew Lloyd Weber entrou na disputa para comprar os estúdios, onde gravou vários de seus musicais. Como ele tem uma enorme fortuna, temos grandes chances de ver o estúdio preservado.

    Abs,

    Julio

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