Numa semana marcada por um quase-cessar-fogo e, aparentemente, novos esforços visando à solução do conflito com a Ucrânia, aumentou expressivamente a quantidade de empresas estrangeiras interrompendo (ou encerrando definitivamente) suas operações na Rússia. É como o reverso da famosa “corrida do ouro” que se seguiu à queda da antiga União Soviética, quando milhões de russos puderam, pela primeira vez, experimentar um Big Mac.

O segmento de tecnologia está entre os mais afetados, com praticamente todas as grandes marcas anunciando sua saída do país. Só nos últimos três dias confirmaram essa decisão Google, Meta (Facebook), Twitter, Tik Tok, Nintendo, Nvidia, Microsoft e SAP, unindo-se a Amazon e Apple, que já haviam tomado a iniciativa semana passada. A Samsung comunicou que não está mais entregando smartphones nem chips na Rússia.

E o Spotify anunciou o fechamento de seu escritório em Moscou, mas não do seu streaming: alegou que a distribuição de música e podcasts pode ser uma arma contra a desinformação patrocinada pelo governo Putin. Vejam outras empresas neste link.

Na internet, praticamente a cada hora a lista cresce, mesmo com ameaças do governo russo de confiscar os bens das empresas que saírem, o que afetaria principalmente os setores de varejo e indústria automobilística.

Neste último, já confirmaram saída – até o momento em que escrevo – as alemãs Volkswagen, Mercedes e BMW; as japonesas Nissan, Honda e Toyota; as americanas Ford e GM; e a sueca Volvo, enquanto a francesa Renault hesita. No varejo, marcas de peso como McDonald’s, IKEA, Starbucks, Levi’s, Coca-Cola e quase todas as do segmento luxo decidiram seguir a onda.

 

 

Nesta 5a feira, as três maiores operadoras de cartão de crédito (Visa, Mastercard e Amex, todas americanas) anunciaram que não estão mais atuando na Rússia e que cartões emitidos no país não têm mais validade internacional. Há ainda o setor de entretenimento: Disney, Sony, Netflix, Universal, Warner e Paramount simplesmente pararam de exibir filmes em cinemas russos e cortaram seus serviços de streaming.

É uma inédita avalanche cujos efeitos ainda estão por ser avaliados. Segundo um estudo da Universidade Yale, mais de 300 companhias de grande porte já estão fora, e naturalmente seu poder de pressão sobre outras é enorme.

Reportagem da agência Bloomberg na semana passada mostrava um aspecto curioso dessa crise. Logo após a invasão da Ucrânia, quando começaram as reações internacionais, muitos milionários russos que vivem em países da Europa perceberam o risco de terem seus bens congelados e começaram a investir em joias e relógios de grife. Ao New York Times, um executivo da Bulgari disse que as vendas no período bateram recordes.

É uma das ironias dessa guerra insana, ainda sem vencedor, mas já com milhões de derrotados: todos os soldados e civis que morreram, suas famílias e os milhões que perderam suas casas e/ou foram afastados de seus entes queridos. Para esses, a guerra, qualquer seja o desfecho, será eternamente uma derrota.

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