Tradicionalmente, em ano pós-Copa os brasileiros consomem menos. Explicando melhor: a cada quatro anos, o país experimenta uma euforia que frequentemente se traduz em consumo maior, no qual o segmento de eletrônicos costuma se destacar. No ano seguinte, a euforia dá lugar à retração.

Não sei se com base em dados concretos ou mais como efeito do que os ingleses chamam wishful thinking (aquilo que gostaríamos que acontecesse), o fato é que várias fontes têm apontado para um segundo semestre positivo no consumo da classe média.

Num evento recente, conversei com Henrique Mascarenhas, diretor da GfK, uma das maiores empresas do mundo em pesquisas de mercado, que justificou seu otimismo com a economia do país – otimismo que contrasta com o (mau) humor dos analistas financeiros. Mascarenhas lembra que o brasileiro anda pessimista com sua vida econômica desde fevereiro de 2014, quando caiu para muita gente a ficha do “terremoto Dilma”.

Já são, portanto, quase 10 anos de falta de confiança, fator que, segundo algumas teorias, acaba se auto-realizando, numa espécie de Lei de Murphy econômica. Num cenário como esse, qualquer sinal de melhora é visto como positivo. Falando especificamente dos eletrônicos, Mascarenhas diz que suas pesquisas revelam um estado de espírito do consumidor que não se via desde o pré-14.

Mais de 10 milhões de TVs em vias de serem trocadas 

E aponta o fenômeno em números. O segmento de TVs premium (telas 4K acima de 55″) cresceu incríveis 340% em vendas no ano passado. Calcula-se que o parque instalado de TVs para serem trocadas soma mais de 10 milhões – são TVs que as pessoas adquiriram há 10 anos ou mais e, por isso, têm forte anseio de trocar por uma nova. E já existem 4,8 milhões de TVs 4K com 5 anos ou mais de uso, também passíveis de troca.

Se essas contas estiverem corretas, há boas chances de que o segundo semestre, com a chegada às lojas das novas linhas de TVs das principais marcas, seja melhor do que foi 2022, quando nem a Copa animou os consumidores. A questão é que a chamada “conjuntura” não está ajudando muito. À falta de rumos do governo se soma uma inflação ainda muito alta: nesta 2a feira, o Banco Central divulgou sua previsão para o ano – 6%, quase o dobro da meta (3,25%).

Mesmo assim, vejo analistas dizendo que o quadro não é tão ruim e que os juros Selic devem cair nos próximos meses. O consolo, dizem eles, é que outros países estão enfrentando dificuldades ainda maiores, e com um agravante (para eles): não estão acostumados à inflação de 5%, 6% e até 10%, como alguns têm registrado.

Talvez esteja aí nossa vantagem: conviver tantas décadas com inflação e juros altos.

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