Não é a primeira vez, nem será a última, que alguém aparece para decretar – simples assim – a morte do cinema. O leitor sabe. Já “mataram” o vinil, o DVD, o rádio, a televisão, a revista… agora, com a IA, já li que até a própria internet, “assassina cruel” de tantas coisas, partiu para o andar de cima.

Os supostos candidatos a Nostradamus sempre caem no ridículo, mas aí os estragos já foram feitos. O futurista da vez é o todo-poderoso Ted Sarandos, CEO da Netflix, que na semana passada afirmou para a revista Time que o atual modelo de negócio das salas de cinema está “ultrapassado”.

“As bilheterias vêm caindo no mundo todo”, explicou ele. “O que o público está querendo nos dizer? Que prefere ver os filmes em casa. Os estúdios e os cinemas insistem em manter uma janela de 45 dias que vai na direção contrária da experiência preferida do consumidor”. (aqui, em inglês, os detalhes).

 

Obras-primas do suspense, no streaming

 

OK, pode ser. Mas o curioso é que, nesta mesma semana, a Netflix anunciou uma grande novidade: o lançamento de um pacote de filmes dirigidos por ninguém menos que Alfred Hitchcock, talvez o cineasta mais imitado da história e responsável por dez entre dez jovens que, no século passado, decidiram seguir a carreira cinematográfica.

Detalhe: entre eles, sobrenomes que você talvez já tenha visto ou ouvido por aí – Spielberg, Scorsese, De Palma, Nolan…

Entre os filmes do “pacote Hitchcock” na Netflix, estarão obras-primas como Um Corpo que Cai (1958), Janela Indiscreta (1954) e Os Pássaros (1963). A coleção poderá ser vista, inclusive no Brasil, a partir de junho (vejam aqui a lista completa). Será a primeira vez que a gigante do streaming faz tal homenagem a um ícone das salas de cinema. Neste vídeo, um resumo de sua carreira.

Mais curioso ainda: a Netflix fez fama, e conquistou milhões de assinantes mundo afora, justamente apostando em filmes e séries novos, muitos de sua própria produção, e relegando os clássicos do cinema a um quase arquivo morto. No quesito Hitchcock, por exemplo, Max, Prime Video e Apple TV+ oferecem muito mais. Agora, para promover o mestre do suspense, planeja uma série de eventos, inclusive com a exibição de seus clássicos, vejam só… em salas de cinema.

 

Netflix reformando salas de cinema? 

 

Os privilegiados que estiverem em Nova York a partir do próximo dia 16 poderão assisti-los no Paris Theater. Esse é um cinema antigo de 545 lugares, que estava para virar uma farmácia da rede Walgreens em 2019, quando a Netflix decidiu comprá-lo e reformá-lo. A empresa fez o mesmo com salas em Los Angeles. Título da mostra: “HITCH! The Original Cinema Influencer”.

Sarandos alega que essas salas servem para organizar eventos promovendo seus filmes, além de exibi-los durante uma semana, quando for o caso, para que sejam elegíveis ao Oscar (essa é uma exigência da Academia). Pelo visto, porém, ele não vai sossegar enquanto houver alguém querendo ir ao cinema em vez de assinar o Netflix.

 

 

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