O colega Guilherme Ravache, em mais um excelente post no LinkedIn, explica o termo enshittification, criado por um escritor americano (Cory Doctorow) para definir a degradação da experiência online nos últimos anos. Parece complicado, mas na prática é algo que todos, de uma outra maneira, estamos vivenciando em nosso dia a dia.

Já tratamos do tema aqui e aqui, mas agora parece estar virando consenso entre especialistas que a política das big techs e (em menor grau) das plataformas de streaming é baseada tão somente no lucro. O discurso da “satisfação do cliente”, que até valeu nos primeiros anos para atrair pagantes, foi reduzido a mero slogan.

 

Autoritarismo e falta de transparência

Antes de analisar a questão do ponto de vista do consumidor, vale deixar de lado qualquer ingenuidade. No capitalismo, toda empresa visa lucro e, desde que não infrinja a lei, pode (deve) explorar todas as formas de vender mais e crescer. O problema é que as big techs, está ficando claro, abusam do autoritarismo e da falta de transparência, na certeza de que o consumidor não tem para onde fugir.

O conceito básico é o que, em marketing, se chama “freemium invertido”. No início, o serviço é gratuito ou de custo muito baixo, para seduzir usuários a se tornarem assinantes (crescimento orgânico). Assim que atingem determinado nível de domínio no mercado, começam a impor barreiras. Quase sempre isso é feito de forma unilateral, sem aviso prévio e sem maiores explicações; o atendimento é apenas virtual, e o cliente precisa de muita sorte para encontrar a resposta que busca.

O exemplo mais conhecido foi do Netflix, depois seguido por outras plataformas de streaming, que passou a bloquear o compartilhamento de assinaturas. Na sequência, vieram aumentos extorsivos de preço nas mensalidades. Levantamento que fizemos com ajuda do ChatGPT mostrou que entre 2014 e 2024 a assinatura básica do Netflix no Brasil teve aumento de 165%!

 

Manipulando os algoritmos

A justificativa é sempre a mesma: “precisamos reajustar os preços para manter a qualidade dos nossos serviços e o investimento em novos conteúdos”. Você, assinante, pode avaliar se está contente com o serviço oferecido. Prime Video, Disney+ e Globoplay também aumentaram seus valores, mas em percentuais bem mais baixos, e agregando outros serviços úteis além da mera assinatura.

 

 

Apuramos também que Google, YouTube, LinkedIn e Meta (Facebook e Instagram) vêm aumentando agressivamente seus custos de publicidade, o que pune principalmente pequenas empresas. Antes, vendiam a ideia do “alcance orgânico”. Manipulando seus algoritmos, fizeram cair de 20%  para menos de 2% o retorno das mensagens, forçando os anunciantes a partir para o impulsionamento – termo técnico que indica “pagar para ampliar a visibilidade do anúncio”.

Você, que tem milhares de amigos no Facebook ou no Instagram, acha que seus posts realmente são enviados a todos? Relaxe: o algoritmo é quem decide quem vai receber. E pode ter certeza de que será apenas uma pequena parcela deles. Se quiser ampliar o alcance, só pagando.

 

O que vai acontecer com a IA

O jogo agora passa a se chamar IAG (Inteligência Artificial Generativa), tecnologia que, como sabemos, está impactando todos os mercados. Hoje, quase todos os serviços desse tipo (ChatGPT, Google Gemini, Perplexity, Microsoft Copilot) são gratuitos. Sim, existem versões pagas, mas os recursos mais interessantes ainda podem ser acessados sem pagar. Até quando?

O próprio GPT, que começou gratuito com a versão GPT-3, nos informa que aos poucos deixará recursos como navegação na internet e criação de imagens exclusivamente no GPT-4, que custa US$ 20 por mês. A ideia, como nos serviços concorrentes, é gradualmente ir limitando os recursos grátis; o Copilot no Microsoft 365 já cobra US$ 30/mês.

#iagenerativa  #primevideo  #algoritmo  #chatgpt  #google  #microsoft  #facebook  #instagram  #transparência  #netflix 

 

 

1 thought on “IA: aproveite enquanto é grátis

  1. Sei nao… Tudo bem, concordo com a ideia da degradacao da experiencia.
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    Porem, esses serviços de internet costumam ser “grátis”… A gente ate sabe que o “pagamento” é feito com a exploracao dos nossos dados, como o uso que fazemos da internet, mas dinheiro mesmo nao sai um centavo sequer do meu bolso para pagar absolutamente NADA que uso das chamadas Big Techs. Entao eu acho que, em algum nivel, eles tem sim o direito de exigir pagamento para uma “melhor experiencia”. Nao dá para exigir que tudo na internet seja “digratis”.
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    Mesma coisa a Netflix. Tem uma boa dose de exagero afirmar que a empresa promoveu “aumentos extorsivos” de preço nas mensalidades. A verdade é que enquanto a Netflix (e outras) cobrava barato e permitia o compartilhamento, ela funcionava no vermelho. Para finalmente começar a dar lucro, ela precisou repensar suas politicas de preços. E a resposta do consumidor foi aumentar o numero de assinaturas, num claro sinal que o público percebe valor no serviço de streaming da Netflix (ou cancelaria a assinatura e pularia para outros serviços, incluindo alguns gratuitos).
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    Dá para discutir essa questao, mas dizer que é “extorsiva” uma mensalidade cujo custo hoje é muito menor do que a gente gastava semanalmente com ingressos de cinema e aluguel de DVDs no passado? Acho exagero.
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