Uma bomba caiu sobre a indústria eletrônica mundial no início de outubro. A União Europeia confirmou uma nova legislação proibindo a venda de aparelhos que consomem muita energia. E o alvo são as TVs de resolução 8K, além de modelos 4K OLED a partir de 65″ e também TVs baseados em painéis MicroLED. Ou seja, os europeus ficarão impedidos de adquirir as melhores TVs do mercado!

A restrição, marcada para entrar em vigor em março de 2023, deixou fabricantes e varejistas surpresos e desnorteados. A UE costuma ser rigorosa com toda a legislação que envolve meio ambiente e energia – e agora muito mais, porque o continente enfrenta uma guerra que, além de causar milhares de mortes, ameaça cortar o gás essencial para as residências, ainda mais com a chegada do inverno.

Mesmo assim, quase todos os analistas estão considerando esdrúxula essa decisão da UE. Criaram em 2019 um “índice de eficiência energética” (EEI, na sigla em inglês) com base no tamanho das telas de TV e nos níveis de consumo. O texto diz que “TVs 8K e MicroLED devem consumir a mesma energia dos UHD (4K)”. Lido assim, a seco, soa como obra de alguém que não faz a menor ideia de como funciona um TV.

MAIS PIXELS, MAIS BRILHO, MAIS ENERGIA

Na verdade, a UE baseou sua decisão numa suposta análise de TVs lançados entre 2012 e 2017, quando ainda não existia nem 8K nem muito menos MicroLED. Quando estes chegaram, em 2019, o órgão simplesmente estendeu as exigências aos novos modelos.

A 8K Association (8KA), que já iniciou uma campanha online para forçar a UE a rever as restrições, lembra que TVs 8K utilizam quatro vezes mais pixels que os 4K (33,177 contra 8,29 milhões). Modelos baseados em LCD – como QLED, QNED, MiniLED, NanoCell etc. – possuem painéis de backlight com milhares de diodos luminosos. Além disso, exigem a chamada matriz preta (black matrix), espécie de manta que protege os componentes internos da TV para evitar superaquecimento.

Sem falar no número de transistores e capacitores, que é muito maior em TVs 8K, portanto elevando a necessidade de energia para que tudo funcione adequadamente. Não há milagre: para atingir os níveis de brilho, contraste, perfeição nas cores e tudo mais que 8K proporciona, é necessário consumir mais energia.

No caso das TVs OLED, que não possuem backlight, o consumo mais alto se deve às próprias características dos leds orgânicos, também chamados “pixels que se autoiluminam”. Os modelos lançados este ano pela LG, por exemplo, produzem até 30% mais brilho que os de 2021. Evidentemente, isso implica em mais energia consumida.

A questão é que uma restrição baixada assim, de forma linear, pode ter impactos tremendos sobre toda a cadeia produtiva, e não só na Europa. Nenhum fabricante tem condições de produzir painéis de TV específicos para determinada região do planeta. Ou seja, seria quase como impedir o avanço da tecnologia.

Espera-se agora que a UE aceite discutir uma revisão da norma em sua próxima reunião, inicialmente prevista para dezembro.

Para quem quiser ir mais fundo no assunto, este vídeo do site Digital Trends, engajado na campanha da 8KA, fornece bons elementos.

2 thoughts on “TVs 8K podem ser banidas na Europa

  1. Parece-me que, caso não revejam a decisão, teremos TVs com menos brilho e possivelmente sem recursos Smart. Reduzir a necessidade de processamento eliminando funções smart pode ser a forma mais fácil de driblar as regras sem reduzir consumo. O consumidor acabará usando outro aparelho para as funções smart, mantendo ou até aumentando o consumo de energia. Recentemente a imprensa reportou que testes indicam que assistir Netflix num console de videogame gasta mais energia que no App da Smart TV.

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