Não se pode falar em comemoração devido às circunstâncias, mas o fato é que o setor de TV por assinatura está registrando os mais altos índices de audiência de sua história graças à quarentena. Segundo a Kantar Ibope Media, no período entre 24 de março e 5 de abril, quando todas as capitais já estavam adotando medidas de isolamento social, os canais pagos registraram aumento de 20% em relação à média de audiência das semanas anteriores.

No período vespertino (12h a 18h), o aumento foi de 35% em relação ao mesmo período de 2019, o que corresponde a cerca de 14 milhões de telespectadores. Ao todo, cada brasileiro passou em média 3h40 por dia assistindo a TV paga (15% a mais que no ano passado). Somente os canais esportivos não estão se beneficiando do fenômeno, por motivos óbvios. Em compensação, os de jornalismo nunca foram tão prestigiados, seguidos pelos de filmes.

Não há estatísticas oficiais, mas pode-se supor que a mudança forçada de comportamento favorece também os serviços de streaming. O caso mais notório, já comentado aqui, é o do Globoplay, que precisou reduzir a resolução de imagem (suspendendo temporariamente as transmissões em 4K e Full-HD) devido ao aumento da demanda. É provável que muitos telespectadores estejam agora descobrindo canais e conteúdos que nem imaginavam existir na TV – vale aqui lembrar que iniciamos em março o serviço HT-Streaming, com dicas de nosso colunista Paulo Gustavo Pereira, que sabe tudo sobre séries e seriados.

Mas o setor de TV por assinatura está comemorando, sim, as novas políticas da Ancine, como detalhou semanas atrás o site Teletime. Com a mudança de orientação do governo federal, foram atendidas várias reivindicações das programadoras, que há anos se queixavam do excesso de interferência em suas atividades. Nos tempos nada saudosos de Dilma, os burocratas da Ancine viviam criando normas absurdas, como a exigência de que os canais informassem mensalmente a lista de filmes e programas exibidos, com as respectivas fichas técnicas; ou a obrigatoriedade de mostrar à Agência todos os contratos firmados entre programadoras e operadoras. Coisas típicas de regimes totalitários (vejam aqui as mudanças).

Fica faltando agora definir, pra valer, qual será o papel da Ancine no atual governo. Como comentamos aqui no ano passado, é preciso responder a eterna questão: deve o Estado financiar a produção cultural do país? Se deve, quais serão as regras? Tristemente, o simples corte de todos os financiamentos via Ancine resultou na perda de milhares de empregos, situação agravada agora pela COVID-19, que fechou todos os cinemas. A pergunta, portanto, ficará sem resposta por mais algum tempo.

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